Nas últimas semanas o tráfego automóvel abrandou. Mas ainda assim muita gente continua a precisar de se deslocar diariamente, quer seja para ir trabalhar, para entregar compras e medicamentos, prestar auxílio médico e até para dar um passeio higiénico. A bicicleta é um modo de transporte individual com inúmeras vantagens face ao transporte colectivo e individual motorizado: menor risco de contágio, mais rápida, mais eficiente, mais barata, não polui, contribui para manter a actividade física e ocupa menos espaço. A sua utilização deve ser amplamente incentivada.
A Cicloficina dos Anjos enviou hoje uma carta aberta ao Presidente e ao Vereador da Mobilidade da Câmara Municipal de Lisboa, com o apelo para que:
- Se criem ciclovias instantâneas na cidade, à semelhança do que está a ser feito em várias cidades do mundo, ocupando o espaço deixado livre pelo tráfego automóvel e incentivando as deslocações de bicicleta com maior segurança;
- Seja estendida a abrangência da gratuitidade da GIRA a trabalhadores de serviços essenciais, profissionais no activo, voluntários/as, estafetas de entrega de comida e medicamentos, para além dos profissionais de saúde;
- Seja compilada e divulgada a lista de oficinas de reparação de bicicletas em funcionamento, bem como os seus horários ou se operam por marcação e respectivos contactos.
A carta aberta pode ser lida abaixo, ou descarregada em PDF: https://cicloficina.pt/cicloda-covid-recomendacao-cml/
Ex.mo Sr Presidente da Câmara Municipal de Lisboa,
Ex.mo Sr Vereador da Mobilidade da Câmara Municipal de Lisboa,
A CICLODA, associação sem fins lucrativos, é mentora do projecto comunitário “Cicloficina dos Anjos”, uma oficina de reparação gratuita de bicicletas que funciona de forma voluntária há 9 anos na Freguesia de Arroios, em Lisboa. Pela nossa oficina passaram já 8 mil pessoas para reparar os seus veículos, saíram mais de 300 bicicletas recuperadas a partir de material usado e foram triados e valorizados cerca de 7 toneladas de resíduos de lojas de bicicletas e de doações particulares. Sendo um projeto de matriz voluntária, contamos actualmente com 30 membros ativos.
Neste momento do surto pandémico COVID-19, em que são adotadas medidas de contenção à propagação do vírus e se reorganizam as atividades e rotinas mais elementares da vida de cada um, acompanhamos os impactos que se fazem sentir na cidade, quer ao nível da acalmia de tráfego, redução da poluição do ar e limitações de acesso aos transportes coletivos, quer também o debate sobre o exercício físico possível e recomendável nesta fase, formas eficazes de respeitar o distanciamento social e manutenção de serviços essenciais.
Em linha com outras organizações de âmbito nacional e internacional, vemos na bicicleta um meio de transporte cuja utilização deve ser incentivada como alternativa viável aos transportes coletivos, que neste momento apresentam riscos de contágio, e ao automóvel particular onde notamos um aumento da velocidade média praticada na cidade devido ao menor volume de tráfego, o que coloca em risco acrescido peões e ciclistas numa altura em que os serviços de emergência médica devem concentrar esforços no combate à pandemia.
Várias cidades no mundo adotaram já medidas de contenção que aproveitam as vantagens da bicicleta e reconhecem o seu papel no sistema de transportes no contexto de emergência atual, atribuindo-lhe o espaço deixado vazio pelo tráfego automóvel, de que são exemplo as “pop-up bike lanes” de Bogotá, Nova Iorque, Cidade do México, Berlim, Budapeste, Londres, entre outras.
A CICLODA vem assim propor que a CML tome medidas imediatas de alteração da tipologia em alguns eixos urbanos, de forma instantânea, para que se incentive a utilização da bicicleta em segurança, promovendo um distanciamento social eficaz através da redução do espaço dedicado à circulação automóvel e, consequentemente, reduzir a velocidade praticada no centro da cidade. Propomos desta forma que se convertam vias de circulação automóvel para uso exclusivo de velocípedes e veículos equiparáveis.
Propomos que o plano de expansão da rede ciclável – que deverá atingir os 200 km em 2021 – seja posto em prática imediatamente, através de ciclovias instantâneas e com prioridade aos principais eixos urbanos. Estas soluções têm um custo de implementação bastante inferior e permitem desde já testar e ajustar a rede planeada, como ensaio para uma versão definitiva.
A utilização destas vias permitirá uma circulação mais segura, fluída e espaçada a todos os profissionais de saúde, trabalhadores de funções essenciais, estafetas de distribuição de alimentos e medicamentos, assim como a todos os cidadãos sempre que necessitem deslocar-se para qualquer fim previsto durante a vigência do Estado de Emergência.
Aproveitamos para sugerir que a gratuitidade da utilização da rede GIRA seja estendida a todos os profissionais no ativo, voluntários e prestadores de serviços de entrega de refeições e medicamentos, tal como se fez nos sistemas de bicicletas partilhadas de Nova Iorque, Moscovo e Glasgow.
Sugerimos ainda que a CML divulgue a lista de oficinas de reparação de bicicletas que estão em funcionamento desde que esta atividade foi permitida pelo decreto do Estado de Emergência, incluindo informação sobre horário, contactos e modo de funcionamento. Estamos disponíveis para compilar esta informação caso a CML o necessite.
Por último, informamos que a Cicloficina dos Anjos estará em funcionamento durante o Estado de Emergência todas as quartas-feiras, das 16h às 19h, e por marcação através de email noutros dias e horários. As medidas de segurança adotadas incluem o atendimento à porta e reparações feitas apenas pelos voluntários.
Agradecemos a Vossa melhor atenção a esta carta que é, acima de tudo, um pedido urgente de ação para estes tempos de emergência e de exceção.
Estamos disponíveis para esclarecer quaisquer questões adicionais que tenham bem como para prestar o apoio que considerem necessário.
A CICLODA – Associação Oficina da Ciclomobilidade.
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