Na realidade não foi uma bicicleta, são muitas as bicicletas oferecidas à Cicloficina dos Anjos por particulares, restauradas pelos nossos voluntários e devolvidas à comunidade.
Esta situação que registamos aqui começou com uma bicicleta desportiva de estrada que a cicloficina já tinha há mais de um ano pronta para ser entregue. Era uma bicicleta bonita, azul e branca, com travões de disco e rodas vistosas, mas cujos potenciais interessados depressa se desinteressavam quando sentiam o seu peso, andava à volta dos 14kg, que é muito para uma bicicleta daquele género.
Então, no desespero de nos vermos livres dela, por falta de espaço na nossa pequena oficina, decidiu-se publicitar a bicicleta nas plataformas de vendas digitais. Foi um sucesso, tivemos 30 contactos de potenciais interessados – isto porque as cicloficinas são associações sem fins lucrativos, cuja finalidade é ter mais bicicletas a rolar na cidade, logo os preços das bicicletas restauradas pelos nossos voluntários são sempre muito simpáticos, pois visam apenas ajudar a pagar as nossas contas de funcionamento.
O problema que se colocou foi «a quem dar preferência?», sendo que não pretendíamos fazer um leilão, visto que o preço já estava estabelecido segundo os procedimentos seguidos pela Cicloficina dos Anjos há já alguns anos – a média de preços indicada por, pelo menos, dois voluntários, tendo em conta o material novo utilizado na restauração da bicicleta – pelo que a solução encontrada partiu por conduzir um sorteio entre «aqueles que aparecessem na Assembleia da Bicicleta, num determinado dia, até uma determinada hora». E assim foi, apareceram 10 pessoas e, por coincidência, a sorte saiu ao interessado que primeiro chegou à oficina (chegou-se a ponderar esse critério, «o primeiro a chegar»).
Claro que nestas situações há sempre quem se sinta frustrado, porque estava com expetativa de ficar com a bicicleta, ou até porque veio de longe. Porém, esse não foi o caso de Z., uma jovem polaca, neurocientista, que veio viver recentemente para Lisboa e que precisava de uma bicicleta para as suas deslocações diárias. Também ela interessada na «azul e branca», não esmoreceu por não lhe ter cabido a sorte e depressa começou a procurar no meio das nossas muitas outras bicicletas restauradas, e por restaurar, onde encontrou uma clássica da marca Peugeot, na qual Z. trabalhou durante 4 sessões, seguindo o método do M-Check (método que revê todos os componentes da bicicleta, até ela estar pronta a rolar). E foi isso que aconteceu, ontem Z. saiu da Assembleia da Bicicleta montada na sua bonita Peugeot, que será o seu meio de transporte em Lisboa e é para isso que as cicloficinas existem – para por mais bicicletas a circular nas cidades!
Tens uma bicicleta que não usas a estragar-se na arrecadação? Gostavas de a ver a circular na cidade? Podes entregá-la na Cicloficina dos Anjos, ou numa outra cicloficina, existem diversas espalhadas pelo país, todo o dinheiro angariado pela venda das bicicletas é para manter as cicloficinas a funcionar, o nosso trabalho é voluntário.
J. Clemente, voluntário na C. dos Anjos