Tudo isto começou com o facto de não ser adepta dos transportes públicos, principalmente aqui em Lisboa, onde nunca é certo quando vai aparecer o próximo autocarro. Não gostando de me sentir dependente para me poder movimentar e pelo sentimento de liberdade que a prática me proporciona, nasceu o desejo de ter uma bicicleta.
Primeiramente o meu plano era arranjar uma em segunda mão e depois renová-la a meu gosto. Com o tempo livre que tinha na altura e o interesse de aprender algo novo, nasceu uma curiosidade de perceber todos os pequenos passos que precisaria dar para traz vida a esta ideia.
Como é a ordem natural das coisas, quando se descobre o que se quer, as coisas começam a vir até nós e chegou até mim – a Cicloficina dos Anjos, onde dei início e conclui o meu projecto através de um amigo que lá me levou assim que soube que tinha interesse numa bicicleta.
Nessa primeira noite foi-me explicado tudo por um dos voluntários e eu percebi as possibilidades que tinha e comecei a inspirar-me mais. Voltei para casa e continuei a pesquisar e a pôr as minhas ideias em ordem até que depois de uns rascunhos, fiquei com uma ideia mais definida de como queria que fosse a minha bicicleta.
Depois disso, todas as minhas segundas e quartas (dias em que a oficina está aberta) foram dedicadas a esta ideia.
Mal tive a noção de como as coisas funcionavam, a ideia de renovar perdeu interesse e dediquei-me à construção do zero, tendo a possibilidade de escolher tudo a meu gosto das peças já usadas, doadas em segunda mão que a oficina tinha e pus as mãos à obra.
Depois da parte inicial que me entusiasmou – a estética – chegara a altura da prática e onde eu me apercebera do quão eu realmente não sabia nada em relação à mecânica de uma bicicleta.
Foi aí que os voluntários me ajudaram e sem eles nada disto teria sido possível. Eles investiram o seu tempo não só para me ajudar no processo, mas a ensinarem-me passo a passo o tinha que fazer, como funciona etc.
Sessão após sessão e cada uma era diferente. Os voluntários são rotativos e houve dias em que não estava quase ninguém e tinha muita ajuda, outros dias que fui e não adiantei quase nada, pois estava cheio e tinham de dar ajuda a todos os que vinham.
Após umas 10 sessões, por volta de um mês e meio de experiências e de uma que a meio quase nos fez desistir- havia um problema no quadro que pensávamos não ter solução e caso não se solucionasse teríamos de começar de novo do zero. Felizmente e acredito que não por acaso, um dos voluntários numa das sessões conseguiu solucionar o problema.
A conclusão do projecto acontece num dia em que o que havia para resolver parecia maior que o tempo que tínhamos disponível mas de alguma maneira tive a ajuda necessária para a sua conclusão e comemoramos ao sabor de uma cerveja portuguesa e uma boa vibe que me fez perceber – independentemente do quão cliché soe – o quão bom é ver o resultado dos nossos esforços ser recompensado.
Valorizo muito todas as pessoas que tive a oportunidade de conhecer e que me me ensinaram tudo o que aprendi e o quão comunidades destas são uma bem valia, em que o objectivo principal é pôr as pessoas a andar de bicicleta. Humanitário em vez de capitalista juntando pessoas que tenham os mesmos interesses.
Tudo isto fez da concretização deste projecto uma experiência muito boa, que vou ter sempre prazer de relatar.
Mais uma vez obrigada,
Laura Pereira