O Selim – Banco de Bicicletas é um novo projeto lisboeta de incentivo à mobilidade. Instalado no Mercado de Arroios, recolhe, repara e empresta bicicletas a quem delas precisa para se deslocar na cidade
Nesta terça, 29, são entregues as primeiras 12 bicicletas do Selim – Banco de Bicicletas, um sistema de empréstimo de longa duração de incentivo à mobilidade, desenvolvido pela Cicloda – Associação Oficina da Ciclomobilidade, com o apoio da Câmara Municipal de Lisboa e da Junta de Freguesia de Arroios. O projeto foi pensado para quem vive, estuda ou trabalha em Lisboa, mas é preciso preencher um requisito importante: não ter bicicleta.
A ideia do Selim surgiu por causa da pandemia. “Houve uma grande procura de bicicletas, como meio alternativo aos transportes públicos. De repente, não havia nem material nem bicicletas nas lojas”, conta Nuno Pinhal, coordenador do projeto e um dos elementos da Cicloda, a associação sem fins lucrativos mentora da Cicloficina dos Anjos. A funcionar na freguesia de Arroios, a Cicloficina é um coletivo que ensina, de forma voluntária, as pessoas a arranjar a sua própria bicicleta, em vez de irem à oficina e pagar o custo da reparação. “Disponibilizamos bicicletas à comunidade há mais de dez anos. Sabíamos que a Câmara Municipal de Lisboa tinha bicicletas que recolhe na rua. Decidimos fazer a proposta de pegar nesse material, repará-lo e pô-lo funcional, para o devolver à população”, explica Nuno Pinhal.
Lançado no dia 18 de setembro, o Selim já recebeu cerca de uma centena de candidaturas em meia de dúzia de dias, sem qualquer promoção nem publicidade. “Sabíamos que as pessoas iam aderir, mas não estávamos à espera de que fossem tantas. O que significa que era uma coisa necessária”, refere Nuno. A ideia é que as pessoas utilizem a bicicleta nos últimos 3 a 5 quilómetros do seu percurso até ao destino final. “Para quem vem da Amadora e fica na Estação de Entrecampos, por exemplo, a distância até trabalho ou à escola pode ser facilmente percorrida de bicicleta, de uma forma mais eficiente do que o transporte público e mais confortável”, defende o coordenador do projeto.
“Todas as medidas que possam ajudar a promover o uso da bicicleta são bem-vindas e inserem-se na política de mobilidade para a cidade”, sublinha Inês Castro Henriques, chefe de divisão de Estudos e Planeamento da Mobilidade da câmara de Lisboa, que destaca as doações, outra vertente do projeto. “É importante que as pessoas percebam que também podem ajudar.”
Quem tiver bicicletas que já não use ou que estejam em mau estado, pode entregá-las no Selim, que tratará de lhes dar nova vida e outro proprietário. A Câmara Municipal de Lisboa apoiou desde o início o projeto e ajudou na sua implementação. “Entregámos as bicicletas que tínhamos em depósito, demos algum apoio financeiro, por exemplo, para a compra de peças, e fizemos a ponte com a Junta de Freguesia de Arroios para que cedesse um espaço ao Selim. Neste caso, uma loja no Mercado Municipal de Arroios. Esta é também uma forma de promover a economia circular ”, explica a responsável da Câmara Municipal de Lisboa.
Neste momento, as bicicletas que estão a ser disponibilizadas têm uma caução simbólica de dez euros, para promover a responsabilização de quem as recebe. São bicicletas sem mudanças (single speed), com quadro rebaixado, luz de dínamo magnético, travões de tambor e um cestinho para acomodar o que eventualmente for preciso nas deslocações diárias para o trabalho ou para a escola. Os extras, como cadeados, campainhas, descansos ou refletores, não estão incluídos. Se devolver a bicicleta, recebe metade da caução de volta. “Não estamos a contar que isso aconteça, a ideia é promover o seu uso e estimular a economia circular – estamos a pegar em bicicletas que estavam literalmente no lixo, abandonadas”, justifica Nuno Pinhal.
O Selim é um projeto-piloto que deverá terminar em dezembro. “Se percebermos que faz sentido e funciona, vamos tentar continuar e ajudar quem precisa de uma bicicleta. Já existem apoios financeiros do Estado para a sua aquisição, mas mesmo assim achamos que não é suficiente. Também não excluímos quem procure uma bicicleta para passear, mas damos prioridade a quem precise dela para deslocar-se para o trabalho ou a escola. Ou ainda aos que procuram um emprego de estafeta e este veículo possa ser essencial”.
Selim – Banco de Bicicletas > selim.cicloficina.pt
Publicado na Visão online, a 25 Set 2020, em: https://visao.sapo.pt/visaose7e/sair/2020-09-25-precisa-de-uma-bicicleta-o-selim-empresta-se-viver-estudar-ou-trabalhar-em-lisboa/ , por Susana Lopes Faustino